quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os amigos



Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura


Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis


Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor

José Tolentino de Mendonça (1965)
De Igual Para Igual


Já por aqui passou este poema, mas fez sentido que agora passasse novamente.
Ilustrei-o com esta bela peça de Couperin (1668-1733):
Les Barricades Mystèrieuses (no Cravo, Scott Ross)

4 comentários:

  1. Não conhecia... gostei de ler e de ouvir :-)

    Um beijo

    ResponderEliminar
  2. Olá, José Rui :)

    Gostei muito deste espaço, ao qual pretendo regressar.

    Não sou música, no sentido de estar ligada a ela profissionalmente, mas amo a música. E admiro muito quem a ela se dedica. Sem música, a vida seria tristíssima e muito menos bela.

    Muitos parabéns!

    ResponderEliminar
  3. O poeta conheço, mas não o compositor.
    Obrigada pelo presente, porque foi um presente, maravilhoso.
    Obrigada pela visita e pelo comentário.
    Até já
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar