sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Direitos da Criança

Em 20 de Novembro de 1989, as Nações Unidas adoptaram por unanimidade a Convenção sobre os Direitos da Criança.
Faz hoje 20 anos (ver Unicef).
É com as crianças e os jovens que trabalho no meu dia-a-dia, é a elas que transmito tudo quanto sei, da música e da vida.
Sinto a forma sincera e incondicional com que se confiam a mim e em mim, sei da responsabilidade de cada palavra ou gesto meu. E do respeito que lhes devo. Por isso, de forma paternal, a elas entrego o meu conhecimento e a minha amizade. Cada aluno sabe que teve/tem/terá em mim mais do que o professor. Confio a cada um a minha arte, e uma grande parte da minha vida.

E porque tenho lido muito de Eugénio de Andrade, aqui deixo um dos seus textos que lhes dedico neste dia:

Em Louvor das Crianças

«Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultâneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso. A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue. O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que, frequentemente, é usado como argumento para a negação da bondade divina. Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos. O simples facto de consentirmos que milhões e milhões de crianças padeçam fome, e reguem com as suas lágrimas a terra onde terão ainda de lutar um dia pela justiça e pela liberdade, prova bem que não somos filhos de Deus.» (1)
in Rosto Precário

(1) - Nota do bloguista: filhos de Deus somos... ainda que tantas vezes não o pareçamos, e tanto tempo demoremos a aprender tal.
Miserere mei, Deus: secundum magnam misericordiam tuam.

7 comentários:

  1. Estou a fazer uma vénia... a ti, a Eugénio de Andrade, a todas as crianças do mundo e à criança que um dia também eu fui.

    Beijo e obrigada. As crianças merecem este tributo. Que ninguém lhes roube os sonhos.

    ResponderEliminar
  2. às crianças que o são e às que é permitido ser
    aos adultos que não apagaram o seu sorriso infantil
    à magia de ser criança num mundo envelhecido
    a ti que sabes de cor este sentir
    um beijo

    ResponderEliminar
  3. José Coutinho20 novembro, 2009

    "As crianças merecem dos adultos pelo menos um sorriso, como a mínima manifestação de AMOR..."
    Quem profer esta frase há anos sou eu José Coutinho, também professor com a responsabilidade de educar com o meu exemplo todas as crianças e jovens que todos os dias me ensinam tanto...
    Às crianças cabe "governar" o futuro e é com a nossa herança cultural que lhes legamos TUDO!!!!

    ResponderEliminar
  4. É muito fácil entrar no mundo das crianças. Ofereces um sorriso. Dizes uma graçola. Tens um amigo para sempre. Saibas cultivá-lo.

    ResponderEliminar
  5. Tia_Cunhada, elas merecem tudo! O direito ao sonho e à preparação para enfrentar a realidade!

    uminuto, sinto-me privilegiado em ter esse sorriso todos os dias. Dá frescura à minha alma, acho que me ajuda a sentir mais jovem!

    José Coutinho, caro amigo, colega e director, congratulo-me em ter aqui as suas palavras e testemunho. Plenamente de acordo com a sua frase! Procuramos dar-lhes esse sorriso verdadeiro e ainda ensinar-lhes o que sabemos... e com gosto procuramos aprender ainda mais para lhes poder ensinar!

    Fátima (Contracena), bruxa, feia e má? Nem por isso! Gosto de comentários sinceros! Qual o problema de questionar?
    Sem entrar aqui em explicações muito profundas ou a citar pedagogos que sustentam a minha afirmação, falarei um pouco da minha experiência.
    Esse misto de afecto e autoridade não tem para as crianças paralelo que não com o pai (ou mãe, se for o caso de uma professora). Eles vivem a relação com os professores em constante comparação com os pais, de quem recebem e dão afecto, por quem têm respeito, e quem lhes transmite os princípios que orientarão a sua vida.
    Sabe, é comum nas minha aulas de turma dos mais novos, chamarem-me, por delicioso engano, pai ou avô! Eles riem-se, mas eu sei que é o afecto deles a falar! E quem sorri é o meu coração!
    Professor/amigo... bem, isso só com os mais velhos (quantos desabafam comigo até problemas pessoais ou familiares...), os mais novos precisam sentir a segurança de um professor que, embora meigo, saiba impor respeito e autoridade na turma.
    Na verdade, um professor com quem se tem aulas individuais, marca muito mais do que parece... para quem leva a música a sério, estabelece-se uma relação muito profunda! Ainda hoje, ao dar aulas, parece que oiço a voz dos dois professores que mais me marcaram, no Conservatório e na Escola Superior de Música. Às vezes até sonho com as aulas mal preparadas em que se zangavam (hoje diria "entristeciam") comigo!
    E o que dizer dos alunos cuja formação acompanhei ao longo de 12 anos? (4 de iniciação e 8 do curso) E dos que são agora já colegas? E dos que se sentam ao nosso lado na orquestra?
    Ah, ensinar assim é um prazer!
    Olhe, acabei por aqui fazer também o meu monólogo, mas dialogaria com muito gosto!

    Susana, o humor é uma chave para entrar no mundo das crianças. Sirvo-me dele muitas vezes. E do sorriso... sempre!

    Para todos a quem aqui respondi, um abraço agradecido pelos vossos comentários!

    ResponderEliminar
  6. Rui
    Conheço bem este texto de Eugénio de Andrade,
    (já publquei também um excerto),identifico-me muito com o mesmo.
    Sou mãe, já foram crianças,hoje mulheres,ambas professoras do ensino básico,e sou avó.
    Freqentemente converso sobre o tema "criança", não me choca em rigor, o sentimento de paternidade na relação professor/aluno.
    É facto que a grande maioria tem pais, irmãos, primos, amigos, amigos dos pais, avós, mas...
    - que vida é a de hoje? Cada vez mais, cada um se centra no seu prórpio ego.
    À sua profissão exige-se rigor e amor sabendo que é difícil por vezes,perante o palacianismo ortodoxo de muitos alunos ,paizinhos e governantes.
    Deixo no entanto o meu bem haja para a forma como lida com seres maravilhosos como as crianças, não esquecendo que em cada uma delas existe uma alma que se todos ajudarmos, teremos por certo gente boa no futuro.
    Já escrevi demais, pelo facto as minhas desculpas.

    ResponderEliminar
  7. Adoro, simplesmente, tudo quanto o Eugénio de Andrade escreveu, uma excelente escolha... para falar, neste caso, do melhor que o mundo tem: as crianças.

    Obrigada pelo carinho que revela pelas nossas crianças (elas, no fundo, são de todos nós,do Mundo!Por isso so temos de cuidar bem delas e do seu futuro)

    Trabalho na REAPN - Rede europeia anti-Pobreza e temos trabalhado a questão da Pobreza Infantil... se quiser visitar o nosso site:www.reapn.org.

    Obrigada pela mensagem que deixou no meu blog, e parabéns pelo seu! Vou visitar mais vezes.

    ana claudia

    ResponderEliminar