quinta-feira, 16 de abril de 2009

Amor, que o gesto humano n'alma escreve

Amor, que o gesto humano n'alma escreve,
vivas faíscas me mostrou um dia,
donde um puro cristal se derretia
por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
por se certificar do que ali via,
foi convertida em fonte, que fazia
a dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
causa o primeiro efeito; o pensamento
endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera num momento,
de lágrimas de honesta piedade,
lágrimas de imortal contentamento.

Luís de Camões
(c. 1524-1580)

Poema que aqui partilho depois de reler mais de uma dezena de sonetos.
Continuo a maravilhar-me com o que de tão belo há 500 anos foi escrito!

1 comentário:

  1. Olá Zé Rui, bom dia .
    A Lírica de Camões sempre me encantou.
    Muito bem escolhido este poema, doce e dolente...
    também merece um Adágio.
    Bj.

    Maria Mamede

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