quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Balanço


Fim de Ano!... Um olhar para o passado, talvez em jeito de balanço. Olhar sério, olhar profundo: o tempo escorre na ampulheta da vida... Um olhar que se deita para trás, que procura avaliar o que se fez. Várias coisas bem, é certo: são elas que mais valorizamos. Mas entre o bem que fazemos, podemos pensar no bem onde colocámos o nosso amor, e é um bem, bem feito. Encontraremos então muitas acções que resultam num bem, mas não foram revestidas do nosso empenho e cuidado, não saíram realmente do coração. Foram um bem menos bem feito!
Nesse olhar para trás encontraremos ainda as nossas omissões: tantas situações que resultaram num vazio, só porque não nos quisemos desassossegar, uma passividade que hoje vemos como uma conveniência pessoal. Oportunidades perdidas... acharemos que o acaso nos vai dar segunda oportunidade? É melhor aproveitar a primeira, sempre que possível!
Mas um ano novo está à porta, uma nova década, como A. M. me lembrava num SMS. Ano Novo, novo ano, cheio de promessas, como tudo quanto é novo... E renovado entusiasmo nos impele a abrir as portas à esperança e entrar com ela no futuro. Bom Ano 2010!

domingo, 27 de dezembro de 2009

Kyrie

Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!
Ary dos Santos

Mozart: Grande Missa em Dó Menor, K427 - Kyrie
Gardiner dirige The English Baroque Soloists e The Monteverdi Choir

sábado, 26 de dezembro de 2009

Plano

Alfred Gockel: Romance in an Exotic Place

Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo
na boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Feliz Natal!

Acompanhar com aquela que é a minha canção de Natal favorita:
Candlelight Carol de John Rutter.
Encontra-se no meu também favorito CD de música de Natal:

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

De quantas graças tinha, a Natureza

De quantas graças tinha, a Natureza
Fez um belo e riquíssimo tesouro,
E com rubis e rosas, neve e ouro,
Formou sublime e angélica beleza.

Pôs na boca os rubis, e na pureza
Do belo rosto as rosas, por quem mouro;
No cabelo o valor do metal louro;
No peito a neve em que a alma tenho acesa.

Mas nos olhos mostrou quanto podia,
E fez deles um sol, onde se apura
A luz mais clara que a do claro dia.

Enfim, Senhora, em vossa compostura
Ela a apurar chegou quanto sabia
De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.

Luís de Camões
(c. 1524-1580)



"Come again" uma das mais famosas canções de John Dowland.
Valeria Mignaco - Soprano; Alfonso Marin - Alaúde (http://www.lutevoice.com/)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Infovini






Gostaria de saber qual o vinho que condiz com a sua personalidade?
(Descubra os seu vinho)
Procura o vinho ideal para determinada ocasião?
(Uma ocasião, um vinho)
Temos um novo portal de vinhos que permite tudo isto e ainda muito mais!
Muito bem concebido! Aqui o recomendo: Infovini

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Rotação

Piet van den Boog: You can only walk with the one who looks you in the eyes ... inside you.


É nos teus olhos que o mundo inteiro cabe,
mesmo quando as suas voltas me levam para longe de ti;
e se outras voltas me fazem ver nos teus
os meus olhos, não é porque o mundo parou. MAS
porque esse breve olhar nos fez imaginar que
só nós é que o fazemos andar.
Nuno Júdice
in Pedro, Lembrando Inês

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Musica Nuda

Standards - No Jazz são os temas que servem de base à improvisação. Os Standards são geralmente temas consagrados porque perduraram no tempo, ou porque alguém os tornou tão conhecidos que estão no ouvido dos vários músicos. As suas compilações são os chamados Real Books.
Surgem hoje novos Standards, baseados em temas da Pop ou do Rock, e há quem muito bem os saiba utilizar. Fiquei surpreendido com os Musica Nuda, apenas Voz e Contrabaixo (Petra Magoni e Ferruccio Spinetti), e muita imaginação! Conheci-os no Mezzo, e aqui os apresento. Pegam em temas de Sting, Beatles, U2, etc., e fazem deles autênticas maravilhas!
Vamos então ouvir I Will Survive, que começa com 2:40 de Contrabaixo a solo, entrando depois a voz:

Sugiro ainda a visualização de Roxanne (Sting) e todos os outros vídeos que há no Youtube!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Meu amor, meu amor


As Palavras das Cantigas (anotações do autor)



















Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.
Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.

Ary dos Santos (1937-1984)
in As Palavras das Cantigas

Ary dos Santos, falecido há 25 anos, faria hoje 72 anos.
Assinalo esta efeméride com um poema que Alan Oulman tão bem musicou.

sábado, 5 de dezembro de 2009

O teu olhar sustenta o céu imenso


Andas pela casa com passos leves,
pousas a mão no colo, sorris. E eu
acredito que o mundo te acompanha.
Como ecos do que fazes, formam-se
nuvens sobre o mar e cantam pássaros
em países distantes. Sei que é assim.
O teu olhar sustenta o céu imenso,
a luz dos astros, todas as galáxias.

José Mário Silva (n. 1973)
in Nuvens e labirintos

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Bom ou mau

Ser bom, ser mau... isto talvez se resolva pela matemática, uma média aritmética. Se a matemática é infalível, isto deve dar um "mais ou menos"...
Errado! Na vida não se é "mais ou menos"! Umas vezes conseguimos ser bons, outras nem por isso. Fundamental é que os dias em que chegamos ao fim com a sensação de dever cumprido, tranquilos na nossa consciência, prevaleçam sobre os menos bons... aqueles em que achamos que não fizemos o nosso melhor, ou que alguém não teve um dia bom por causa da omissão do que de bom poderíamos ter dado.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O lado de fora

Reflection (Art by Wicks)










Eu não procuro nada em ti,
nem em mim próprio, é algo em ti
que procura algo em ti
no labirinto dos meus pensamentos.

Eu estou entre ti e ti,
e a minha vida, os meus sentidos
(principalmente os meus sentidos)
toldam de sombras o teu rosto.

O meu rosto não reflecte a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.

Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.

Manuel António Pina
in Poesia Reunida