segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Um portal no feminino

Maria João Almeida, conquistou o seu espaço e os seus leitores, desbravando terreno num campo predominantemente masculino. Creio ser actualmente a única mulher em Portugal a escrever sobre vinhos! O sucesso do trabalho desta enófila ganha agora maior visibilidade no portal recém lançado, ainda com alguns capítulos em construção, mas já bem recheado de conteúdo!
Notas de prova, notícias diárias, receitas, clube de vinhos, e ainda, retirando as palavras do próprio portal, "uma forte componente de gastronomia e turismo, áreas necessariamente relacionadas com o vinho, nobres uvas que a natureza produz e o homem sabiamente transforma."
Os meus parabéns e votos de sucesso! Serei leitor assíduo e recomendo-o aos meus leitores!

sábado, 29 de agosto de 2009

O que estou a ouvir

Musicalmente falando sou, como já dizia Sócrates - o filósofo - um "cidadão do mundo". E não me refiro apenas à música erudita, onde nunca olho a nacionalidades para a escolha de uma obra a interpretar. O mesmo sinto em relação às músicas nacionais de diversos países. Como não adorar a flauta irlandesa (grande Chris Norman!) e a adorável música que com ela se faz?
Mas hoje falarei de um instrumento que canta a identidade de um povo. Um instrumento que chora as mágoas do primeiro genocídio do séc. XX, mas também canta as glórias da enorme riqueza cultural que esse país possui e espalha pelo mundo. O país: Arménia; o instrumento: Duduk.
Fiquei impressionado com a beleza da música que é possível extrair de um instrumento tão simples e tão limitado no número de notas (genericamente apenas uma oitava), cujas origens remontam a 3000 anos. Mas o que lhe falta em recursos compensa-o em expressão. Oiça-se um dos grandes intérpretes, Jivan Gasparyan, e logo se compreenderá do que falo!
O CD que estou a ouvir resulta do encontro de Jivan Gasparyan com o iraniano Hossein Alizedeh (um dos mestres do Tar, um alaúde persa), ao qual se juntam outros grandes músicos. Reuniu-se assim um grupo que interpreta músicas da tradição arménia e persa, com momentos de uma beleza quase hipnótica, capaz de nos transportar para outras paragens, com sonoridades bem distintas da nossa música ocidental. Uma descoberta para mim que aqui partilho, um CD para "espreitar" na Amazon (ou onde o encontrarem!...).

Um agradecimento à minha colega arménia Marina Dellalyan, que me sensibilizou para uma mais atenta audição do Duduk e indicou alguns nomes dos seu principais executantes.
Acrescento ainda que o Duduk e sua música foram decretados pela UNESCO, em 2005, Património Cultural Imaterial da Humanidade.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Escreva!

«O Mestre diz: Escreva! Seja uma carta, um diário ou algumas anotações enquanto fala ao telefone — Mas escreva! Escrever nos aproxima de Deus e do próximo. Se você quiser entender melhor seu papel nesse mundo, não deixe de escrever. Procure colocar toda a sua alma por escrito, mesmo que ninguém leia — ou, o que é pior, mesmo que alguém termine lendo a parte que você não queria que fosse lida. O simples facto de escrever nos ajuda a organizar nossos pensamentos e ver mais claramente o que está à nossa volta. Um papel e uma caneta operam milagres — aliviam a dor, transformam sonhos em realidade e recuperam a esperança perdida. "A palavra tem poder".»

in Maktube (1994)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ano Internacional da Astronomia

Comemoram-se hoje os 400 anos da apresentação do telescópio de Galileu (precisamente a 25 de Agosto de 1609) - muitos já se terão apercebido disso pelo evocativo logótipo do Google. Por tal efeméride, foi decretado o ano 2009 Ano Internacional da Astronomia. Recomendo uma visita ao site http://www.astronomia2009.org/, da responsabilidade da Sociedade Portuguesa de Astronomia.
Destaco esta data com o enorme gosto em divulgar uma ciência que é também praticada por muitos amadores em todo o mundo, e que eu muito aprecio desde criança.

domingo, 16 de agosto de 2009

Retrato

Quadro de Rafał Olbiński














No teu rosto começa a madrugada.
Luz abrindo,
de rosa em rosa,
transparente e molhada.

Melodia
distante mas segura;
irrompendo da terra,
quente, redonda, madura.

Mar imenso,
praia deserta, horizontal e calma.
Sabor agreste.
Rosto da minha alma.
Eugénio de Andrade
in Os Amantes Sem Dinheiro

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O Visionário ou Som e Cor III










Alucina-me a Cor! - A Rosa é como a Lira,
A Lira pelo tempo há muito engrinaldada,
E é já velha a união, a núpcia sagrada,
Entre a cor que nos prende e a nota que suspira.

Se a terra, às vezes, cria a flor que não inspira,
A teatral camélia, a branca enfastiada,
Muitas vezes, no ar, perpassa a nota alada
Como a perdida cor de alguma flor, que expira…

Há plantas ideais de um cântico divino,
Irmãs do Oboé, gémeas do Violino,
Há gemidos no azul, gritos no carmesim…

A magnólia é uma harpa etérea e perfumada
E o cacto, a larga flor, vermelha, ensanguentada,
- Tem notas marciais: soa como um clarim.
(1848-1921)

Uma curiosidade, esta relação entre cores, flores e instrumentos musicais!
Para ser um soneto perfeito só faltava aqui uma Flauta!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Palavras minhas

Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.

Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.

Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...

Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
- que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.
Pedro Tamen
(n. 1934)

Este belo poema foi muito bem cantado por Carlos do Carmo no CD "Do Outro Lado", de Carlos Martins. A fusão com o Jazz resultou lindíssima. Refiro isso na mensagem O que estou a ouvir de 13.11.08.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O que estou a ouvir

Quase por acaso, eis que encontro no YouTube uma preciosidade (entre tantas que lá se vão colocando...): o Concerto em Ré Menor para 2 Violinos, BWV 1043, de J. S. Bach!
Das variadíssimas interpretações desta obra, chamei "preciosidade" a esta pelos dois magníficos solistas, Rachel Podger e Andrew Manze, dois dos grandes volinistas no panorama da música antiga.
Quanto à obra, ela fala por si! Mas se quiserem começar por espreitar o 2º andamento... é lindo! Não resistirão a ouvir toda a obra, onde é constante o diálogo entre os dois violinos, e entre estes e a orquestra!

1 - Vivace


2- Largo ma non tanto


3- Allegro

Eu Não Existo Sem Você

Eu sei e você sabe,
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo
Levará você de mim
Eu sei e você sabe
Que a distância não existe
E todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você

Composição: Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes

Esta comovente balada, das mais belas cantadas em português do Brasil, pode ser ouvida AQUI (lindo, o interlúdio em Violoncelo e Piano!)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A ansiedade do futuro

Só sente ansiedade pelo futuro aquele cujo presente é vazio

«O principal defeito da vida é ela estar sempre por completar, haver sempre algo a prolongar. Quem, todavia, quotidianamente der à própria vida "os últimos retoques" nunca se queixará de falta de tempo; em contrapartida, é da falta de tempo que provém o temor e o desejo do futuro, o que só serve para corroer a alma. Não há mais miserável situação do que vir a esta vida sem se saber qual o rumo a seguir nela; o espírito inquieto debate-se com o inelutável receio de saber quanto e como ainda nos resta para viver. Qual o modo de escapar a uma tal ansiedade? Há um apenas: que a nossa vida não se projecte para o futuro, mas se concentre em si mesma. Só sente ansiedade pelo futuro aquele cujo presente é vazio. (...)»

Séneca, in "Cartas a Lucílio"

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Os nossos sonhos

Salvador Dali: Rosa Meditativa
"Um sintoma da morte dos nossos sonhos são as nossas certezas. Porque não queremos olhar a vida como uma grande aventura a ser vivida, passamos a julgar-nos sábios no pouco que pedimos da existência. E não percebemos a imensa alegria que está no coração de quem está a lutar."

(Paulo Coelho:
O Diário de um Mago)

E apetece aqui citar Fernando Pessoa: "Somos do tamanho de nossos sonhos".
Sejamos então cada vez maiores!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

De tarde

E eis que dou por mim a ler Cesário Verde, O Sentimento dum Ocidental.
Recheado de poemas de carácter bucólico, que tanto apetecem ler no Verão, escolhi este que representa um interessante exemplo da sua poesia, onde é forte o visualismo e a musicalidade. Encontrei uma interessante análise AQUI que valerá a pena ler também.

De tarde


Naquele "pic-nic" de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde
(1855-1886)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O que estou a ouvir

Sketches Of Spain (1959), de Miles Davis é um dos quatro álbuns orquestrais resultantes da colaboração com o compositor-arranjador Gil Evans. Obra magistral, Sketches foi o primeiro projecto de Miles pós “Kind of Blue”, e parece influenciado por todo o carácter modal revelado na interpretação do Adagio de "Concierto de Aranjuez" (Joaquín Rodrigo). A edição que aqui destaco, apresenta o histórico álbum original acrescentado por faixas extra, ilustrando como a sinergia Miles-Evans é desenvolvida. "The Maids de Cádiz" (do álbum "Miles Ahead", 1957) é o primeiro exemplo de Gil Evans adaptando uma composição de origem espanhola para uma colaboração orquestral com Miles. A gravação ao vivo do "Concierto de Aranjuez", o único que foi dado desta obra, teve lugar no Carnegie Hall, em 1961, é-nos aqui oferecido como uma raridade de elevado valor, da interpretação desta peça central do álbum. "Teo", (do álbum “Someday My Prince Will Come”, de 1961) é uma pequena peça dedicada ao Produtor Teo Macero. "Solea" é a outra jóia do álbum original, com sua paleta orquestral que é, numa palavra, sublime.
Nos 50 anos da gravação de Sketches Of Spain, uma reedição a não perder desta obra prima do Jazz. As notas desta edição de 2009 são escritas pelo compositor Gunther Schuller (n. 1925), que muito valor deu ao Jazz nas suas composições musicais, e nos livros que escreveu.
(Fonte: Amazon)

Pode ouvir-se Concierto de Aranjuez AQUI (1ª parte) e AQUI (2ª parte)