quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

t i a g o

Tiago, amigo jovem e meu catequizando de há alguns anos, honrou-me com o prémio "Que melhor reflecte", noticiado no seu blogue Reflexões Exteriores! Fico contente que um jovem como ele veja nas minhas reflexões, valores e referências para a sua vida. Entusiasma-me a escrever, responsabiliza-me no que escrevo. Obrigado Tiago!

Garrafeira Nacional

Nesta época festiva tenho colocado aqui diversas mensagens sobre vinhos. A maior parte deles consegue encontrar-se por bom preço nas grandes superfícies comerciais. Mas entrar numa loja de vinhos... ah, respira-se outro ambiente, há um atencioso e sábio aconselhamento, as garrafas são cuidadosamente colocadas, é outra coisa...
Presto aqui a minha homenagem à Garrafeira Nacional, que consegue ter tudo o que uma boa loja deve ter, e ainda vários preços abaixo dos praticados pelas grandes superfícies.
Para quem reside mais a norte, poderei aconselhar a loja Vinho & Coisas, mas são bem vindas outras sugestões.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Vai um Porto?

Aqui apresento uma selecção de Vinho do Porto, de elevado nível e de preço razoável, classificados na escala 0-20.
São maioritariamente LBV (Late Bottled Vintage), vinhos com um estilo próximo dos Vintage, mas que beneficiam de um envelhecimento em barricas de madeira, para lhes conferir algumas qualidades adicionais de que os Vintage não necessitam.
Os Tawny e os Colheita de qualidade precisam de algum envelhecimento, o que acresce ao seu preço (para os Tawny - mistura de vinhos de diferentes colheitas e idades, pelo menos 10 anos). Os Colheita são tawnys de uma só colheita.
Para quem queira aventurar-se no terreno dos Vintage, indico quatro possibilidades por um preço ainda razoável.

Poças LBV 2001 (10,00 €) 17
Barão de Vilar LBV 2003 (10,00 €) 16,5
Quinta de La Rosa LBV 2003 (13,00 €) 16,5
Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo LBV 2003 (13,00 €) 16,5
Quinta Seara d'Ordens LBV 2004 (13,00 €) 16,5
Burmester LBV 2003 (14,00 €) 16,5
Barros LBV 2003 (14,00 €) 16,5
Fonseca LBV 2001 (14,00 €) 16,5
Ramos Pinto LBV 2004 (15,00 €) 16,5

Niepoort Colheita 2004 (13,00 €) 16,5
Quinta Seara d'Ordens Ruby (9,00 €) 16

Quinta do Portal Vintage 2005 (21,00 €) 17
Quinta Seara d'Ordens Vintage 2005 (25,00 €) 17
Quinta das Tecedeiras Vintage 2005 (25,00 €) 17
Vale de Abraão Vintage 2005 (25,00 €) 17

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Romeu

Em Jerusalém de Romeu, próximo de Mirandela, existe uma quinta que há quatro gerações produz vinho, azeite e cortiça, através de cultura biológica: Casa Menéres - Quinta do Romeu (Soc. Clemente Menéres, Lda.)
Pronuncio-me apenas sobre a excelente qualidade dos vinhos e azeites ali produzidos, já que de cortiça só sei avaliar a que vejo nas rolhas.
Depois de uma visita ao Restaurante Maria Rita, para provar os produtos deliciosamente confeccionados, e ao Museu das Curiosidades, apetece-nos designar esta quinta como "quinta pedagógica". Entre nela e sairá mais rico em saberes e em sabores!
Visite virtualmente em http://www.quintadoromeu.com/

domingo, 28 de dezembro de 2008

Filosofia do Amor










Correm as fontes ao rio
os rios correm ao mar;
num enlace fugidio
prendem-se as brisas no ar…
Nada no mundo é sozinho:
por sublime lei do Céu,
tudo frui outro carinho…
Não hei-de alcançá-lo eu?

Olha os montes adorando
o vasto azul, olha as vagas
uma a outra se osculando
todas abraçando as fragas…
Vivos, rútilos desejos,
no sol ardente os verás:
-Que me fazem tantos beijos,
se tu a mim mos não dás?

Trad.: Luiz Cardim
(1792-1822)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O que estou a ouvir

Rabo De Nube (Cauda de Nuvem), é o título de uma gravação do extraordinário saxofonista e flautista Charles Lloyd, lançada para assinalar o seu 70º aniversário (15 de Março de 2008). Charles Lloyd dá-nos a ouvir nesta sua primeira gravação ao vivo no formato de quarteto, sonoridades que vão dos seus ambientes mais exóticos, com alguma mística oriental, às suas melodias criativas típicas de um músico "Post-bop" que passou pelo "Free-Jazz".
Que agradável para aquecer uma tarde, depois de ver a neve cair. Lindo de ver, belo de ouvir.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Dia de Natal










Hoje é dia de Natal.
O jornal fala dos pobres
em letras grandes e pretas,
traz versos e historietas
e desenhos bonitinhos,
e traz retratos também
dos bodos, bodos e bodos,
em casa de gente bem.
Hoje é dia de Natal.

- Mas quando será de todos?
Sidónio Muralha
(1920-1982)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal à beira-rio

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Uma companhia para o bacalhau

Pronto, pronto, vários amigos protestaram porque não indiquei aqui alguns vinhos para o Natal! Têm razão, aqui vai então:
Para o bacalhau (contando que ele esteja bem regado com azeite de qualidade), aconselham alguns especialistas que sigo de perto, que sejam bebidos vinhos com alguma acidez e menos frutados. Então escolhi:
Quinta das Bágeiras, Bairrada Reserva Tinto 2005 (± 8 Eur.)
Casa de Santar, Dão Tinto 2005 (± 5 Eur.)
Casa de Santar, Dão Reserva Tinto 2005 (± 10 Eur.)

Para acompanhar a sobremesa, que tal um Moscatel de Setúbal com pelo menos 10 anos? Verá que ligará bem com qualquer doce, e muito bem com o Bolo-Rei.
Deixe o Porto Vintage ou LBV para o queijo, e um bom Tawny para a conversa.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A minha árvore de Natal

Quero Senhor, neste Natal, armar uma árvore dentro do meu coração e nela pendurar em vez de presentes, os nomes de todos os meus amigos. Os amigos de longe e de perto. Os antigos e os mais recentes. Os que vejo a cada dia e os que raramente encontro. Os sempre lembrados e os que às vezes ficam esquecidos. Os constantes e os intermitentes. Os das horas difíceis e os das horas alegres, os que sem querer, eu magoei, ou, sem querer me magoaram. Aqueles a quem conheço profundamente e aqueles que menos me são conhecidos. Os que pouco me devem e aqueles a quem muito devo. Meus amigos humildes e meus amigos que exercem cargos importantes. Os nomes de todos os que já passaram pela minha vida. Uma árvore de muitas raízes muito profundas para que seus nomes nunca mais sejam arrancados do meu coração. De ramos muito extensos, para que novos nomes vindos de todas as partes, venham juntar-se aos existentes. De sombras muito agradáveis para que nossa Amizade, seja um momento de repouso nas lutas da vida. Que o Natal esteja vivo dentro de nós em cada dia do ano que se inicia, para que juntos possamos viver sempre o Amor e a Fraternidade.

Há vários anos que esta mensagem, de auto desconhecido, circula pela Net. Mas é uma bela mensagem cujas palavras vou fazer minhas, para desejar um santo e feliz Natal a todos os meus leitores.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Silêncio Amoroso e Fecundo











Nos dias ociosos
que pena senti pelo tempo perdido!

Mas terá sido alguma vez perdido, Senhor?
Não tiveste Tu a minha vida,
a cada instante, em tuas mãos?

Escondido no coração das coisas,
Tu nutres sementes
e transforma-las em rebentos,
e os botões em flores
e as flores em frutos.

Estava eu cansado,

dormitando no meu leito ocioso,
e pensava que nada fazia.
Quando acordei, pela manhã,
vi o meu jardim
cheio de flores maravilhosas.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Rembrandt em Lisboa

Apresento aqui a sugestão de uma visita ao Museu Nacional da Arte Antiga, onde estará em exposição uma obra-prima de Rembrandt, entre outras novidades. Diz assim a agência Lusa:
"Um quadro de Rembrandt representando o seu filho Titus sentado à secretária é a estrela do novo percurso da visita às salas da pintura e das artes decorativas europeias do Museu Nacional de Arte Antiga.
A tela de 1655 foi cedida pelo Museu Boijmans van Beuningen, de Roterdão (Holanda), até 08 de Fevereiro, em troca pelo empréstimo, por igual período, do São Jerónimo, de Dürer, uma das obras-primas do acervo do museu português.
Trata-se de "uma jóia da pintura holandesa", nas palavras de Paulo Henriques, director do MNAA, segundo o qual é a primeira vez que uma obra do mestre holandês é emprestada a Portugal.
A pintura é dominada por tons escuros em que sobressai o rosto do filho do pintor, então com 12 anos, aparentemente a reflectir sobre um desenho que estaria a fazer numa secretária, sobre a qual uma camada de folhas de papel parece projectar luz à sua frente.
A acompanhar o quadro - que ocupa o centro de uma sala e sobre o qual converge a perspectiva de todo um corredor - o museu holandês cedeu igualmente um conjunto de três desenhos e cinco gravuras de pequenas dimensões, entre os quais dois auto-retratos e cenas familiares, uma delas com a mãe de Titus.
O São Jerónimo, de Albrecht Dürer, foi cedido para integrar uma importante exposição do museu holandês dedicada a Erasmo e à sua meditação sobre o ser e o destino humano.
A remodelação das salas da pintura e das artes decorativas europeias - que foram pintadas de novo e receberam uma nova iluminação vertical, próxima da original - está na origem da alteração do percurso que os visitantes passam a fazer a partir de terça-feira.
A visita ao núcleo começa logo à direita da escadaria do Palácio Alvor, a parte original do edifício, o que, para Paulo Henriques, lhe dá "um acesso mais nobre" e permite uma melhor adequação das salas às escalas das obras expostas.
"Inverteu-se o percurso da visita e diminuiu-se o número de peças expostas, o que permitiu um ajustamento mais correcto das peças à dimensão das salas", afirmou o responsável pelo museu numa visita guiada em que os jornalistas puderam testemunhar a azáfama final dos técnicos para a colocação das ultimas peças nos seus lugares.
"É outra maneira de mostrar a colecção e de valorizar as peças, dando-lhes mais leitura e criando mais sentido à pintura. Há menos pintura exposta, mas vê-se muito melhor", sublinhou.
Na nova montagem das salas e das peças participou a arquitecta Célia Anica.
Além da sala dedicada a Rembrandt, duas outras deste conjunto de 22 salas receberam tratamento diferenciado, nomeadamente aquela onde se expõe o tríptico "As tentações de Santo Antão", de Hyeronimus Bosch, que está montado cenograficamente, e o salão nobre, onde estão tapeçarias flamengas, esculturas cerâmicas e uma mesa italiana de pedras duras.
Todas as salas estarão dotadas de sinalética e pontos com documentação sobre as obras expostas.
O trabalho de remontagem recebeu o apoio mecenático do Millennium BCP, que aceitou uma proposta do museu para aplicar neste projecto de requalificação permanente do MNAA uma verba inicialmente destinada à ultima exposição temporária agendada para este ano, sobre o escultor Machado de Castro.
Contribuíram igualmente o Instituto dos Museus e da Conservação e a companhia holandesa Philips, que forneceu o material de iluminação que simula a luz zenital das salas.
CM.
Lusa/fim"

Para finalizar, sugiro uma visualização do "desembarque" da referida obra-prima AQUI.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Natureza, uma terapia

O trabalho abunda (felizmente, diremos!) e o tempo sempre escasseia. E assim vamos vivendo, em constante luta, sempre com esforço e em permanente tensão. Olhamos os diários e ali temos de caras a situação económica percária, a conjuntura mundial, os assaltos, os crimes, os negócios. A paz parece andar assustada, ou ela se afasta de nós ou nós dela. Ah, afinal estavam ali umas notícias, sem grande destaque, que com alguma boa vontade poderemos reter!
Até os divertimentos, socializados e poucas vezes sociáveis, encerram em si alguma tensão: horas fixas, espaços fechados, não incomodar os demais, estar calados a assistir ao que prepararam para nós.
Tudo isto se reflete no nosso espírito, com alguma caridade para com nós próprios lá dominamos os nervos, a ansiedade, a já referida tensão. Aguentaremos muito tempo? Lá vêm as psicoses, mal do século, exigindo um tratamento adequado.
Ah, como é preciso um passeio no campo, abrir a alma à natureza e reencontrarmo-nos com ela! Tão pouca gente ainda olha para as estrelas, procurando as constelações, ou a imensidão do mar, a grandeza das montanhas!
Faltará tempo, mas falta sobretudo disponibilidade interior para ir ao encontro da natureza que está lá à nossa espera. Não faltemos, será difícil viver desvinculado dela!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Parabéns Manoel de Oliveira!

Manoel de Oliveira, o maior cineasta do mundo, completa 100 anos!

Goste-se mais ou goste-se menos, uma coisa é certa: devemos render-nos à evidência da apreciação dos especialistas. Render-nos não no sentido de "engolir", mas de considerar seriamente a opinião. No jornal PÚBLICO vêm hoje publicados importantes depoimentos que vale a pena ler na íntegra, do quais aqui coloco alguns recortes:

“É muito fácil explicar por que é que ele é o maior cineasta do mundo”, diz Bonnaud. “O cinema, mesmo quando é um grande cinema feito pelos maiores cineastas, obedece a um certo número de regras que são intocáveis. O que é fascinante em Oliveira é que ele não respeita regra nenhuma. É alguém que opera quase como se não tivesse havido cinema antes dele – é preciso inventar ou reinventar tudo. É como um primitivo italiano que tem de inventar a pintura porque ela não existe antes dele ou como Jean Dubuffet ou Picasso, que não se contentam com os códigos da pintura, mas que a querem reinventar o tempo todo.”

“Manoel de Oliveira é a mais bela anomalia do mundo”, escreveu Bonnaud em 2000, num texto para um catálogo do Festival de Turim sobre o realizador, e era, evidentemente, um elogio. Aí, o crítico francês demonstra como Oliveira não faz nada como ninguém.

“Não existem cinco cineastas que sejam tão livres assim”, diz Miguel Marías, ex-director da Cinemateca Espanhola, figura tutelar da crítica em Espanha (e irmão do escritor Javier Marías). “A única certeza que se pode ter é que cada filme seu será uma surpresa: nunca é convencional, é sempre atrevido”.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Agora os brancos

Na mensagem de 22 de Novembro apresentei vários vinhos tintos com excelente relação qualidade/preço. Respondendo a alguns apelos, faço agora o mesmo para os brancos.
É sabido que em geral os tintos são mais apreciados, mas para um peixe, um marisco, uma refeição ligeira (mesmo de carne), os brancos tornam-se uma excelente companhia.
Então aqui se seguem algumas recomendações, tendo em conta que mais uma vez aceitei o desafio de não me alongar para lá dos 5 Euros, e de os classificar de 0 a 5:

Verde: Deu La Deu Alvarinho 2007 (4,5) (+ de 5 Eur., mas justifica)
Via Latina Alvarinho 2007 (4)
Adega Coop. Ponte de Lima - Loureiro 2007 (4)
Douro: Caves Santa Marta 2006 (4)
Valdarante 2007 (4)
Evel 2007 (4)
Quinta da Pacheca 2007 (4)
Beiras: Terra Franca 2007 (4)
Távora-Varosa: Terras do Demo Seco 2006 (4)
Bairrada: Angelus Escolha 2007 (4)
Adega Cooperativa de Souselas 2006 (4)
Dão: Duque de Viseu 2007 (4)
Quinta do Serrado Malvasia Fina 2007 (4)
Estremadura: Quinta das Pancas 2007 (4)
Bucelas: Prova Régia Arinto 2007 (4)
Bucellas 2007 (4)
Ribatejo: Casal da Coelheira 2007 (4,5)
Companhia das Lezírias Fernão Pires 2007 (4)
Terras do Sado: Catarina 2007 (4,5)
Serras de Azeitão 2007 (4)
BSE Seco 2007 (4)
Igrejinha 2007 (4)
Terras do Pó 2007 (4)
Palmela: Dona Ermelinda 2007 (4)
Fontanário de Pegões 2007 (4)
Alentejo: Redondo 2007 (4,5)
Anta da Serra 2007 (4,5)
Reguengos 2007 (4)
Marquês de Borba 2007 (4)
Terras de Baco 2007 (4)
E. A. 2007 (4)
Monte Velho 2007 (4)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Soneto






Pudesse o que penso exprimir e dizer
Cada pensamento oculto e silente,
Levar meu sentir moldado na mente
A ser natural perante o viver;

Pudesse a alma verter, confessar

Os segredos íntimos em meu ser;
Grande eu seria, mas não pude aprender
Uma língua bem, que expresse o pesar.

Assim, dia e noite novo sussurar,

E noite e dia sussurros que vão...
Oh! A palavra ou frase em que atirar

O que penso e sinto, acordando então

O mundo; mas, mudo, não sei cantar,
Mudo como as nuvens antes do trovão.
Fernando Pessoa (1888-1935)

domingo, 7 de dezembro de 2008

Ricas prendas

No meio de tanta azáfama esquecemo-nos que o Natal é uma festa cristã. Não estranho que os não cristãos se associem a ela, procurando fazer uma festa de família, de amigos, um tempo para partilhar com os outros. Ninguém quer viver o Natal na solidão.
Oferecem-se então presentes, tradição que simboliza os dons oferecidos pelos Magos ao Menino Jesus. Hoje poderemos dar-lhe ainda o significado de que Deus se tornou presente na vida da humanidade, enviando-lhe o seu Filho.
Ah, com este sentido poderemos voltar à essência! Através de um presente, tornarmo-nos presentes na vida dos outros! Esqueçamos as prendas que se dão só por dar, o dinheiro que vamos gastar, onde e o quê para comprar. Recordo o exemplo da minha amiga Mariana, que sempre que possível procura ela própria, com a sua família, fazer os presentes. Surpreende-nos com lindas caixas maravilhosamente forradas, bolachinhas feitas em conjunto com os filhos, um belo postal com uma especial mensagem, e estes são apenas alguns exemplos. Temos tudo guardado (até, as bolachas, que mais que no estômago, ficam no coração!), e assim torna a sua família mais presente no seio de outra família, e faz com que a amizade, continuamente recordada, esteja sempre presente também.
É disto que precisamos, não de prendas de maior ou menor valor, mas de presentes que nos tornem de facto mais presentes na vida de alguém.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Jardins de Luz

Finalmente o aguardado CD Jardins de Luz, com obras do grande amigo Carlos Gutkin, interpretadas por ele próprio. Neste CD participo tocando na Suite Piazzollana (3 andamentos).
Com orgulho cito aqui as gentis palavras de Carlos Gutkin, que podem ler-se nos agradecimentos:

A José Rui Fernandes, companheiro das "an­danças musicais" do Duo Atlântico, e flautista de fina sensibilidade. Obrigado pela sua interpre­tação na "Suite Piazzollana", obra esta que lhe é dedicada.

Como descrever este disco que, mesmo sendo suspeito, me atrevo a classificar como um dos melhores discos de guitarra que já ouvi? Transcreverei aqui o que foi escrito pelo próprio compositor:

As obras que se apresentam neste CD são fruto das raízes musicais e culturais que influíram na minha formação como músico e guitarrista: de Cuba, os ritmos sincopados do Son que se podem encontrar, por exemplo, em Son da Primavera ou em Sonete de Outono. Da Argentina, as três peças da Suite Piazzollana para Flauta e Guitarra, escritas em homenagem a Astor Piazzolla. Vemos por exemplo que na Milonga-Son confluem os elementos melódico e rítmico característicos do Son cubano (como as síncopas) e os elementos rítmico e harmónico do Tango e da Milonga argentina. No segundo tango, Triste como un tango triste, aparece o elemento romântico e lírico do tango contrastando com duas secções de dança. O terceiro tango da Suite Piazzollana, Volando Contigo, começa com um arpejo rítmico e contrapontístico cíclico, e a Flauta insiste em perpetuar uma simples melodia, terminando num frenesim rítmico, quase improvisado, com ritmos próximos do Candomblé. Em algumas obras sentimos a presença de formas próximas do Pop, como em Ícaro II ou La Luz y tu piel, e noutras estão presentes características do género clássico Romântico, como nas valsas Vals de Vez e Valsa do Fim de Ano (nesta última estão presentes também citações do Joropo venezuelano) e no tremolo de O Alquimista, composta para a peça de teatro “A Procura do Presente” em 1987, e Introdução ao Alquimista composta mais tarde, em 2001, para criar equilíbrio e contraste com a secção do tremolo. Quando escrevi a peça Jardins de Luz, título que também dá nome a este disco, deixei-me seduzir pelas possibilidades rítmicas e hamónicas que tinha conseguido, próximas das linguagens da música electrónica (pelo elemento rítmico e melódico em ostinato), da linguagem contemporânea e do jazz (pelo seu contexto harmónico) e das linguagens próximas da música pop, do rap e também do flamenco - pelos ritmos sincopados característicos utilizados. É desde os primeiros compassos que se pode perceber esta linguagem «híbrida».
Carlos Gukin