quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Autumn Leaves

Vamos lá dar um pouco de Jazz a este Outono, até porque amanhã estarão à venda os bilhetes para o Seixal Jazz! Não quero perder nenhum concerto!
Aqui temos Stanley Jordan a interpretar Autumn Leaves. Tenho o CD e julgava que Stanley Jordan tinha duplicado a guitarra... afinal toca duas guitarras!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Outono

Foto: Matt Cline















Não é agora Verão, nem aqui tornam
Os dias indiferentes do passado.
Já Primavera errada se embuçou
Numa dobra do tempo castigado.
É tudo quanto tenho, o fruto puro
Sob o calor de Outono amadurado.

domingo, 27 de setembro de 2009

Redescobrir Bach

O que poderá descobrir-se ainda na música de Bach? Tanto! E já nem falo de descobrir a beleza de obras menos ouvidas!
À medida que se vai investigando, e assim nos aproximamos do pensamento do mestre, surgem novas visões de algumas das suas obras. Sobre uma parte irei falar brevemente, mas hoje falo de outra recém editada em disco: J. S. Bach: Rediscovered Wind Concertos.
Iremos então perceber, por exemplo, que o andamento lento do Concerto de Oboé em Ré Maior, pode ser ouvido num arioso da Cantata BWV 156, Ich steh mit einem Fuss im Grabe (Paul Van der Linden no Oboé):



E também no Concerto para Cravo Nº 5 em Fá Menor, BWV 1056 (Trevor Pinock no Cravo):



Deduzindo-se então que (por mais alguns motivos adicionais) possivelmente tenha sido também tocado como um concerto para Oboé e Orquestra, aqui em primeira audição neste CD.
Algumas outras peças do CD J. S. Bach: Rediscovered Wind Concertos sofreram igual tratamento, muito interessante de ouvir e de redescobrir peças que até estarão no ouvido, mas noutro contexo.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Vamos a votos

A campanha eleitoral chega hoje ao fim. Ficou devidamente esclarecido? Acha que sabe em que partido votar segundo a sua consciência e opinião? Está seguro disso? Ainda está indeciso?
O site Bússola Eleitoral dá uma ajuda ao nosso esclarecimento. Já que não conseguimos ler o programa eleitoral de todos os partidos, podemos pelo menos comparar as suas principais linhas com as nossas ideias. Não é um jogo ou brincadeira! E se o resultado for diferente do que esperava... bem, pode sempre rever se houve algum engano na sua resposta. Se mesmo assim continua a dar o resultado que não imaginava, talvez seja altura de dar voz a quem defende as suas ideias, mesmo que seja um pequeno partido a desbravar terreno para um dia ter lugar no parlamento (o site permite até indicar o grau de confiança em cada líder!).
A teoria do voto útil tem dado grandes inutilidades!

Dar-te-ei a mão









dar-te-ei a mão no silêncio,
na escuridão da noite,
quando não tiveres outra para apertar.
entender-te-ei os meus braços para um abraço,
no frio de um inverno solitário,
na ausência de uma meiga voz em teu ouvido,
ou quando o teu corpo se sentir vazio.
beijar-te-ei na face,
na angústia de uma cinzenta madrugada,
quando dos teus olhos se rasgar uma brilhante estrada.
quando menos esperares eu chegarei a ti!


Poema inspirado pelo post anterior, voo que aqui faz sentido destacar.
Obrigado Luísa, pela ternura que trazes a este blogue!

domingo, 20 de setembro de 2009

Ajudar o próximo

Ajudar o próximo nem é assim tão difícil! Uma contribuição monetária para uma instituição que lhe dará apoio, que tratará da sua saúde, e a nossa consciência fica tranquila! Mas se esse próximo está mesmo próximo? Quero dizer, se esse próximo está tão perto de nós que nos cruzamos diariamente com ele? E se for nosso colega? E se for um nosso amigo? E se até for nosso familiar? E se é alguém cujo olhar nos interpela, alguém que precisa de nós enquanto pessoa, e não dos nossos bens? E se ele nem for muito amável connosco, nem reconhecido para com o nosso gesto?
Ajudar o próximo torna-se assim em algo mais difícil, temos que ser nós a fazê-lo, de forma sincera e desinteressada, e não podemos "comprar" quem o faça por nós!
A esse ajudar o próximo chamaremos antes "amar o próximo", e o amor dá-se: não se compra nem se vende!
E o próximo ali está... tão próximo todos os dias!...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Uma explicação de ternura

20 de Setembro (domingo)
16.00 horas
Ateneu Comercial do Porto
Lançamento do livro Pin – Uma explicação de ternura

Luísa Azevedo, a autora, já nos revelou belos poemas no seu blogue pin-gente, e nos comentários que gentilmente aqui deixa.
Fica o CONVITE para este evento que bem merece a presença de todos. Se tal não for possível, não deixem de procurar esse livro, “uma mescla única de palavras e imagens, em que a poesia extravasa do papel para os sentires de quem a lê”.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Quase retrato












(a J. R. Fernandes - Quase retrato)

A mão
que prende e dá
o tom perfeito
da ária inacabada
do meu pranto
é mão
e verbo no sujeito
compondo a melodia
doutro canto...
e tocando, afaga
acarinha
a divina flauta Pastoril
e é o próprio Pã
Primaveril
que à Natureza acorda
do quebranto!...
Maria Mamede, 14/09/09
in Mãos

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O que estou a ouvir

Por vezes a música inspira a poesia. Outras, é a poesia a inspirar a música.
Depois de ler um poema de Maria Mamede, foi este o tema que fiquei a ouvir:
De Claude Debussy (1862-1918), Syrinx (uma obra prima para Flauta solo!), aqui interpretado por Paula Robison.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O corpo não espera












O corpo não espera. Não. Por nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sede, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo.

Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.
in Antologia Poética

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A de sempre, toda ela

Quadro:
A possible dream
William Duncan












Se eu vos disser: «tudo abandonei»
É porque ela não é a do meu corpo,
Eu nunca me gabei,
Não é verdade
E a bruma de fundo em que me movo
Não sabe nunca se eu passei.

O leque da sua boca, o reflexo dos seus olhos
Sou eu o único a falar deles,
O único a ser cingido
Por esse espelho tão nulo em que o ar circula através de mim
E o ar tem um rosto, um rosto amado,
Um rosto amante, o teu rosto,
A ti que não tens nome e que os outros ignoram,
O mar diz-te: sobre mim, o céu diz-te: sobre mim,
Os astros adivinham-te, as nuvens imaginam-te
E o sangue espalhado nos melhores momentos,
O sangue da generosidade
Transporta-te com delícias.

Canto a grande alegria de te cantar,
A grande alegria de te ter ou te não ter,
A candura de te esperar, a inocência de te conhecer,
Ó tu que suprimes o esquecimento, a esperança e a ignorância,
Que suprimes a ausência e que me pões no mundo,
Eu canto por cantar, amo-te para cantar
O mistério em que o amor me cria e se liberta.

Tu és pura, tu és ainda mais pura do que eu próprio.

Paul Eluard in "Algumas das Palavras"
Tradução de António Ramos Rosa

domingo, 6 de setembro de 2009

O que estou a ouvir

Vivaldi - Stabat Mater
Acordei com esta melodia na cabeça (quase no ouvido!).
Vim ouvi-la enquanto comentava uma mensagem num blogue amigo. E continuei a ouvir.
Trata-se de obra composta para um festival de música sacra que, segundo parece, terá sido composta um pouco apressadamente, dada a simplicidade com que estão escritas as cordas, e o recurso a repetições. Mas essa simplicidade confere-lhe uma enorme clareza para a bela linha melódica. Uma daquelas melodias que fica a cantar na nossa cabeça!
Deixo a sugestão de audição... para hoje ou outro dia.
(Neste excerto ouviremos a interpretação do grande contratenor Andreas Scholl)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Carta de José a José

Eu te digo, José: por esta carta
Não garanto mentira nem verdade:
A ciência de mim se aparta
Desta náusea de ser e de vontade.
São inúteis cobiças, vãos desgostos,
São braços levantados, já caídos,
São as rugas que vincam os cem rostos
Da comédia e do jogo repetidos.
Desse lado da mesa (ou deste espelho)
Vais seguindo as palavras invertidas:
Verás melhor assim se (quanto) valho
Ao invés dos sinais e das medidas.
(Correm águas geladas no meu rio,
E mortos cantos de aves, derivando
Por silêncio frustrado e calafrio,
Vão manhã doutro dia recordando.)
Cai a chuva do céu, e não te molha,
Está a noite entre nós, e não te cega.
Não sorrias, José: à tua escolha
O que me sobra de alma se me nega.
Desse lado da mesa, onde me acusas,
Te levantas. A marca do teu pé,
Na soleira da porta que recusas,
Fecha de vez a carta abandonada.
Tua sombra pisada, teu amigo — José.