terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Soneto






Pudesse o que penso exprimir e dizer
Cada pensamento oculto e silente,
Levar meu sentir moldado na mente
A ser natural perante o viver;

Pudesse a alma verter, confessar

Os segredos íntimos em meu ser;
Grande eu seria, mas não pude aprender
Uma língua bem, que expresse o pesar.

Assim, dia e noite novo sussurar,

E noite e dia sussurros que vão...
Oh! A palavra ou frase em que atirar

O que penso e sinto, acordando então

O mundo; mas, mudo, não sei cantar,
Mudo como as nuvens antes do trovão.
Fernando Pessoa (1888-1935)

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