Depois de um Verão pleno de poesia, tinha eu 18 anos, apresentaram-me um poeta: Pablo Neruda. Falecera há dez anos. Leram-me em castelhano um dos poemas do seu livro Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada. Fiquei com ele escrito numa folha de papel de carta.
Mais tarde comprei o livro. Escrevi assim na primeira página:
"Se eu não fosse músico era poeta.
Se fosse poeta gostaria de cantar o amor como ele."
Hoje é ainda um livro de onde por vezes tomo um poema, talvez como quem toma uma café para lhe aquecer a alma. Ou para que melhor circule o sangue na "veia artística".
Livro belo. A Net está inundada de poemas seus, mas este é um daqueles livros que é bom sentir. Poemas tão belos, não elegerei um favorito. Mas transcrevo aqui um:
Para o meu coração basta o teu peito
para a tua liberdade as minhas asas.
De minha boca chegará até ao céu
o que adormecido estava na tua alma.
Tu trazes a ilusão de cada dia.
Chegas como o orvalho nas corolas.
Com tua ausência escavas o horizonte.
Eternamente em fuga com a onda.
Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E logo entristeces, como uma viagem.
Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu despertei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma.
Estou deleitado a ouvir a voz plangente, nostálgica, sofrida de Neruda. Recordo com um enorme prazer o filme "O Carteiro de Neruda" e a figura do próprio Neruda.
ResponderEliminarO seu blogue(os seus blogues), Zé Rui, estão uma delícia. Muito trabalho, muito conhecimento e muita sensibilidade por trás daquilo que o ecrã nos mostra.
Um abraço amigo.
Zé Lopes Fernandes
"Apaixonei-me pela posia de Pablo Neruda após ler um dos seus poemas, exactamente no livro que referes.
ResponderEliminarA sua poesia é tão bela e plena de sensibilidade,que toca a nossa alma, elevando-a, preenchendo-a, despertando memórias e sentimentos.
Por vezes também volto a ela, principalmente naqueles dias "negros", em que a capacidade de vermos algo de bom à nossa volta está esmagada pela realidade.
Aqui partilho o meu poema favorito.
Quando morrer quero essas mãos nos meus olhos:
quero a luz e o trigo das tuas mãos amadas
passando uma vez mais em mim sua frescura:
sentir a suavidade que mudou meu destino.
Quero que vivas enquanto eu, dormindo, te espero,
quero que os teus ouvidos fiquem ouvindo o vento,
que cheires o aroma do mar que amamos ambos
e fiques pisando a areia que pisamos.
Quero que tudo que eu amo fique vivo,
e a ti amei e cantei sobre todas as coisas,
por isso fica tu florescendo, florida,
para que alcanses tudo o que este amor te ordena,
para que esta sombra corra o teu cabelo,
para que assim conheçam a razão do meu canto.