quarta-feira, 5 de agosto de 2009

De tarde

E eis que dou por mim a ler Cesário Verde, O Sentimento dum Ocidental.
Recheado de poemas de carácter bucólico, que tanto apetecem ler no Verão, escolhi este que representa um interessante exemplo da sua poesia, onde é forte o visualismo e a musicalidade. Encontrei uma interessante análise AQUI que valerá a pena ler também.

De tarde


Naquele "pic-nic" de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde
(1855-1886)

1 comentário:

  1. tenho cesário verde como um poema "simples" (não me saiu outro termo) e gosto dessa simplicidade.
    um abraço

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