segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Desperta


Desperta com o sol, com a madrugada,
Desperta com o dia que aparece;
Sê com o orvalho e a luz recém-nascida
Mas, ao contrário deles, permanece.

As névoas se desprendem do que és;
Elas são só o que podemos ver.
Vem e entra nos nossos corações
E deixa aí a vida acontecer.

A manhã pertence ao mundo vazio;

Os homens aqui não chegam tão cedo.
Vem e deixa a vida desprender-se
Lenta, de ti, tal como o medo.

E em teu ser terrível nada mais:
Apenas tu, sem corpo ou alma, assim.
Verte o teu bálsamo na fronte triste
E faz a esperança cumprir-se em mim!

Fernando Pessoa (1888-1935)
Poesia Inglesa II

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